Ditadura com TV e ar-condicionado? Privilégio até atrás das grades.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, aprovou a cela especial onde o ex-presidente Jair Bolsonaro cumprirá pena na Papuda, em Brasília. O espaço foi reformado e adaptado, com ar-condicionado e TV — um contraste gritante com a realidade da maioria dos presos brasileiros.

Ditadura com TV e ar-condicionado? Privilégio até atrás das grades.

O Brasil é um país onde até o castigo se curva diante do poder.
A notícia de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovou a cela especial onde Jair Bolsonaro deverá cumprir pena no presídio da Papuda, em Brasília, expôs mais uma vez o abismo moral que nos separa.

Segundo o portal Metrópoles, o espaço foi cuidadosamente reformado: paredes brancas, ar-condicionado, televisão. Um ambiente que mais parece um quarto de hospital do que uma cela. E não é preciso ser sociólogo para entender o simbolismo disso: no Brasil, a punição é seletiva — e o privilégio, hereditário.

Enquanto o ex-presidente repousará em uma cela confortável, longe do calor, da sujeira e do caos, milhares de brasileiros — pobres, pretos, periféricos — amontoam-se em masmorras sem ventilação, dividindo o ar rarefeito com ratos, baratas e o esquecimento.
São corpos descartáveis, vozes sem eco, condenados antes mesmo de qualquer sentença.
Alguns esperam há anos por um julgamento que nunca vem. Outros já foram esquecidos até pelos números do sistema.

Bolsonaro terá uma cela limpa. E isso, por si só, é o retrato de um país que jamais se libertou da escravidão.
Porque aqui, o Estado sempre teve dois rostos: um para o poderoso, outro para o pobre.
Um rosto que sorri e o outro que pisa.

O Brasil é o país onde o colarinho branco raramente conhece o chão frio da prisão, onde cada cela tem dono e cada sentença, um preço.
E a ironia maior é ver que, mesmo quando a justiça finalmente alcança um poderoso, ela ainda se curva para servi-lo com deferência.
É como se dissesse: “Você será punido, mas com conforto. Será preso, mas sem se misturar.”

Essa distinção não é apenas material — é simbólica. É o lembrete de que o poder continua protegido, mesmo quando perde a liberdade.
A cela branca e refrigerada de Bolsonaro não é um detalhe — é uma declaração.
É o Estado reafirmando que há castas invisíveis dentro da nação.
Que o pobre paga com o corpo, e o rico paga com o nome.

Enquanto o país se indigna nas redes, a realidade segue intacta.
O pedreiro, o motoboy, o vendedor ambulante, o jovem negro da favela — esses continuam sendo tratados como lixo penal, sem direito a ar, colchão ou julgamento.
E é por isso que, no Brasil, até o inferno é dividido por classes.

No fim das contas, a cela de Bolsonaro é mais do que um escândalo: é um símbolo.
Um espelho que reflete o país como ele realmente é — desigual, hipócrita e viciado em hierarquias.
E quando a justiça se torna privilégio, ela deixa de ser justiça e passa a ser apenas mais uma forma de poder.

Porque aqui, até atrás das grades, o privilégio tem cor, classe e nome.

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